[Guest post] O que eu aprendi em 25 anos (desde 20/07/1998) vivenciando o mercado de milhas, pontos e viagens

A respeito do excelente post de ontem, do Kalispera, e dando continuidade à série de excelentes reflexões – e que têm gerado comentários de altíssima qualidade por parte de todos os leitores – segue o depoimento do Thiago, que vive nesse mundo há duas décadas e meia.

Confiram!

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“Acho que sou um pouco mais antigo do que vocês nesse mundo dos pontos e das milhas.

Minha inscrição no Smiles, quando ainda era da Varig, diz: membro desde 20/07/1998.

Desde criança, portanto, eu acompanho esse universo, mais por uma necessidade de viajar com pouco dinheiro do que por qualquer outro motivo.

Não que isso me dê alguma autoridade pra falar do assunto, absolutamente, mas já vi bastante coisa acontecer.

E a impressão que tenho é de que as coisas são cíclicas e, ainda no presente momento, estão se ajustando, assim como continuará ocorrendo, como sempre foi.

O principal motivo que me leva a ver isso é a necessidade de encarar o cenário em perspectiva temporal.

Dos anos 2000 pra cá, imaginem, praticamente tudo mudou, não apenas com relação aos pontos e milhas, mas também ao mundo real. Como mencionaram os colegas, o dólar disparou, depois caiu, depois subiu de novo, e agora está na casa dos R$ 5. Assim vivemos, e não é de hoje.

Com os pontos e milhas, o movimento parece seguir um pouco essa lógica de oscilação, mas influenciado por outra lei essencial do mercado: oferta e demanda.

O mercado foi inundado de pontos, como forma de capitalização das empresas, e a demanda, ainda que tenha crescido absurdamente, não foi capaz de acompanhar o ritmo de criação de dinheiro, quero dizer, de pontos.

O resultado não poderia ser outro: a inflação disparou.

Contextualizadas essas circunstâncias, as coisas parecem ter mudado, efetivamente, e de forma ainda mais sensível, com a chegada da pandemia.

As empresas continuaram emitindo pontos (sempre com o objetivo de capitalização / geração de caixa), sem que conseguissem tirar seus aviões do chão. O que vemos hoje com os preços (com pontos ou em espécie) é o resultado dessa demanda represada ao longo de 2, 3 anos.

Vamos a um exemplo: na comparação indicada pelo Kalispera, a passagem para o Caribe, via Avianca, passou de 15.000 pontos (em 2012) para 75.000 pontos (atualmente). Por outro lado, direto no cartão, a passagem ficaria R$ 2.700,00.

Mas gente, em 2012 era possível comprar uma passagem para o Japão por esse preço.

Eu mesmo, até o começo da pandemia, sempre me recusei a pagar mais do que R$ 2.500,00 em uma passagem de ida e volta pra Europa. Sempre. Tinha em mente: acima de R$ 2.500,00 é muito caro, um roubo, não vale (claro, isso depende da necessidade de cada um e não estou considerando situações de emergência, apenas viagens a lazer/turismo).

O meu ponto, então, é que, de fato, como menciona o Kalispera, chegamos ao limite.

Mas e a partir de agora?

Quero crer que o mercado de milhas e pontos ainda vai passar por ajustes e talvez as coisas melhorem para nós. Um pouco.

Esqueçam a volta ao mundo de 2012, isso é impossível, especialmente porque o mundo pós-pandemia é diferente do anterior.

O mercado da aviação mudou e vamos ficar com outro exemplo que me parece interessante: boa parte dos passageiros que viajavam com tarifas mais altas (no mundo pré-pandemia) era corporativo.

Eram as empresas que mandavam seus executivos/advogados/funcionários muitas vezes pagando tarifas cheias.

Esse não é mais o cenário de hoje.

Com a necessária virtualização imposta pela covid-19, muitas reuniões/compromissos/atividades passaram a ser online, gerando um vácuo na compra dessas tarifas mais caras que os clientes turísticos, mais econômicos como nós (de modo geral), também não é capaz de preencher com facilidade.

O resultado?

O preço das tarifas mais caras (aquelas que, quase exclusivamente, os clientes corporativos eram capazes/obrigados a pagar, mas agora não mais) necessariamente passou a ser diluído entre todos.

Conclusão

Ou seja, tenho a impressão de que vivemos em um cenário de tempestade perfeita (inflação, oferta excessiva, custos mais elevados (por guerras e instabilidades político/econômicas, de modo geral, no mundo todo) e a situação pode melhorar, caso esses fatores contribuam, ou piorar, pois o cenário só é mesmo de limite quando nosso horizonte indica isso (afinal, nunca vimos os preços tão altos, mas isso não quer dizer que não vão piorar ainda mais).

Não há qualquer certeza.

E se não há certeza, acredito que não seja o momento de tomar a decisão de desistir desse mundo, pelo menos por ora (até porque, bem sabemos, mar calmo não faz bom marinheiro).

Realmente acredito que a festa pode (ainda) não ter acabado”.

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O mercado é cíclico e parece que estamos na ponta negativa desse mundo: foi o comentário do Leandro Nicolau ontem:

“Este mercado é cíclico demais, nesses últimos 18 anos que emito passagens com milhas já vimos vários “apocalipses”.

Claro que o do momento é sempre o pior, mas quem lembra quando acabou o ping pong de pagamentos do Santander?

Parecia que não existia nada depois disso.

Quando acabou a pouca vergonha (hahahahaha) que era a “farra do iti” parecia que era o fim de tudo também, e agora a “Morte do PdA” como o Guilherme fez uma postagem e o apocalipse do momento e como todos os outros, vai passar também”.

Qual será o próximo apocalipse? Diminuição da pontuação dos cartões de crédito? (que parece já ter começado com o PDA, e dado continuidade pelo Bradesco?) Fim de parcerias com parceiros aéreos estrangeiros?